Tirem-nos a terra em que nascemos, Onde crescemos E onde descobrimos pela primeira vez que o mundo é assim: um tabuleiro de xadrez...
tirem-nos a luz do sol que os aquece, a lua lírica do shingombela nas noites mulatas da selva moçambicana (essa lua que nos semeou no coração a poesia que encontramos na vida) tirem-nos a palhota – humilde cubata onde vivemos e amamos, tirem-nos a machamba que nos dá o pão, tirem-nos o calor do lume (que nos é quase tudo) – mas não nos tirem a música!
Podem desterrar-nos, Levar-nos Para longes terras, Vender-nos como mercadoria, Acorrentar-nos À terra, do sol à lua e da lua ao sol, – mas seremos sempre livres se nos deixarem a música!
Que onde estiver nossa canção, Mesmo escravos, senhores seremos; E mesmo mortos viveremos. E no nosso lamento escravo Estará a terra onde nascemos, A luz do nosso sol, A lua dos shingombelas, O calor do lume, A palhota onde vivemos, A machamba que os dá o pão!
E tudo será novamente nosso, Ainda que de cadeia nos pés E azorrague no dorso... E o nosso queixume Será uma libertação Derramada em nosso canto!
– por isso pedimos, de joelhos pedimos: tirem-nos tudo... mas não nos tirem a vida, não nos levem a musica!