Tens tido muito boas críticas ao teu álbum de estreia, na imprensa musical. À parte disso, como tem sido o feedback do público em geral? A ideia que tenho é que o disco passou ao lado da imprensa. À parte disso, por enquanto, vão havendo pessoas em número suficiente a manifestarem-me o seu gosto pelas canções para que sinta que vale a pena continuar a mostrá-las.
A nível da divulgação do teu trabalho, alguma vez sentiste dificuldades nesse campo? E como o tens feito? Senti, sinto as dificuldades que qualquer trabalho editado com poucos meios sente. Foi feita a promoção possível, na altura em que o disco saiu. Agora, para além dos concertos, mantenho um blogue actualizado com notícias sobre o projecto e tenho, como toda a gente, uma página no MySpace.
Achas que cada vez mais a net é um aliado nesse campo? Qual a tua opinião sobre a música versus net, e consequente partilha/pirataria que se vive hoje em dia? É-o, obviamente. Partilha é uma coisa. Por mim, estejam à vontade para partilhar a música que faço, agradeço. Pirataria é outra. Não ia achar muita piada se estivessem a ganhar dinheiro às minhas custas, nas minhas costas — o dinheiro faz-me (faz-nos) muita falta.
Qual a tua opinião sobre o actual panorama musical português? O campo criativo apresenta, aparentemente, uma enorme diversidade. Parece-me é que o meio que o envolve não é suficientemente dinâmico para acompanhar a energia criativa que daí advém, acabando, na maior parte das vezes, por desperdiçá-la ou por levá-la a funcionar apenas em circuito fechado.
Tens sentido dificuldades em divulgar o teu trabalho? Como o tens feito?
Sim e não! Sim porque em Portugal ainda existem alguns preconceitos em relação a novas bandas, a bandas de uma só pessoa. As rádios têm uma política musical que não ajuda quem está a começar. A imprensa musical nacional é escassa e quando existe, parece que é só para alguns. A televisão nacional também tem preconceitos e aposta no seguro. Floribelas e Morangos são produtos de sucesso e por isso essa política irá continuar a dominar. Não porque o recurso ao myspace, a blogs como A TROMPA e outros, têm sido essenciais na divulgação/promoção . Existem algumas rádios locais (RUC e outras) que são a melhor ajuda neste difícil processo.
Usas a net como grande aliada na tua divulgação. Qual a tua opinião em relação á música vs net e consequente partilha/pirataria que se vive hoje em dia? Achas que poderá ajudar ou prejudicar os TLE?
Acho uma falsa questão ser a Associação Fonográfica Portuguesa ir para as televisões dizer que a pirataria é a causa principal de as vendas de discos estarem a morrer. Não compreendo como é possível o presidente dessa associação dizer, na imprensa, que a pirataria está associada a redes terroristas. Existe muita ignorância sobre este problema e parece-me absurdo querer fazer-me acreditar que o Bin Laden ganha dinheiro com o p2p. A indústria musical está a reformular-se e o formato CD em breve ira assumir um papel secundário. As vendas online de música estão em franco crescimento e existem novas "editoras" online (microsoft, mtv e outras) para concorrer com o Itunes, que lidera este mercado. Os consumidores estão a ouvir música noutros formatos e quem sofre é a velha industria que tenta a todos os custos vender a ideia que a pirataria é a principal culpada neste processo. Um CD paga 17% de IVA e chegam a preços absurdos às lojas. A pirataria só é grave quando existem terceiros a lucrar com isso... ou seja, filmes e músicas à venda nas feiras! Os DJ's que baixam música ilegal e que as passam também deveriam ser penalizados! Bares e restaurantes idem idem, aspas aspas! Acho que toda a problemática dos direitos de autor podia ser facilmente resolvida se todos os fabricantes de suportes graváveis (CD's, K7's) pagassem uma ínfima parte, que poderia ser incluído no preço final do seu produto. Os fabricantes de leitores de mp3, telemóveis poderiam também pagar e ajudar. Por último, acho que os ISP's também deviam ter um papel neste processo e incluir uma taxa nos seus serviços para ajudar os autores. No final, se todos ajudassem a pagar seria melhor para a sociedade e para os autores. O interessante é ver os números de espectadores de cinema em Portugal nos últimos anos... em comparação com a venda de CD's. Será que a pirataria só prejudica a música? Este problema é um mal menor se a vontade política for diferente da actual! Há dias comprei um DVD dos Monty Python e reparei que no início há publicidade anti pirataria. A minha pergunta é a seguinte: se eu comprei o DVD original porque razão tenho que ver esta publicidade cada vez que vejo o DVD? Creio que esta paranóia está a prejudicar-nos a todos.
Qual é a tua opinião em relação ao panorama actual musical português?
Se considerares o TOP de vendas, acho deplorável. No panorama alternativo acho muito interessante. Nunca se fez tanta música com qualidade em Portugal e nunca tanto os media ignoraram as produções independentes. Parece-me afinal que resulta cantar em Português com refrões a dizer Yah...Yah... os media gostam disso!
Tens utilizado a net como teu grande aliado na divulgação da tua música, disponibilizando sempre os teus trabalhos na totalidade para download. Vais continuar a faze-lo dessa forma? E qual a tua opinião em relação á música versus net?
(...) a Internet é o maior aliado de qualquer músico desconhecido que queira divulgar o seu trabalho. Não só te permite chegares a um público-alvo vastíssimo e sem limitações geográficas, coisa que seria impensável há uns anos atrás, como te permite interagir directamente com os teus fãs e perceber melhor aquilo que estás a fazer bem e o que estás a fazer mal. O problema que ainda subsiste é saber como é que isso poderá ser rentável para quem depende financeiramente da música… acho que no futuro irá passar muito por uma maior consciencialização dos fãs da necessidade de apoiarem os artistas que admiram, quer através da compra de álbuns e merchandise, quer nos concertos; não numa perspectiva de criminalização dos downloads, como tem sido feito até agora, mas numa perspectiva de se permitir os downloads e confiar que se o ouvinte gostar do que ouviu e tiver possibilidades financeiras para tal, irá certamente comprar o álbum e aparecer nos concertos.
Qual a tua opinião sobre o actual panorama musical português?
É provavelmente a melhor fase que me lembro na música portuguesa. Temos uma quantidade enorme de novos artistas a fazerem coisas incríveis nas mais variadas áreas, quer ao nível amador quer ao nível profissional (bandas com edição comercial); o público começa finalmente a aparecer mais nos concertos de bandas nacionais, especialmente o pessoal mais novo; as bandas também estão um bocadinho mais organizadas (pelo menos a nível do underground) e já se mexem no sentido de organizarem concertos conjuntos e criarem oportunidades, em vez de esperarem que alguém faça isso por eles. É irónico que tudo isto aconteça ao mesmo tempo que se vive a maior crise de sempre da indústria discográfica, só prova que há um completo desfasamento entre as pessoas que gerem a indústria da música e as pessoas que a fazem.
"Eu acredito que a música é livre e vou continuar a procurar músicos que partilhem da mesma ideia. Pelo que me é dado a perceber, o mercado musical a que estamos habituados está a mudar, até porque a nova geração já nasceu com a partilha do mp3. Se vejo a música como uma arte e uma paixão, eu quero partilhá-la. Para mim é interessante chegar a milhares de pessoas que podem ouvir a minha música e o meu disco na íntegra em qualquer parte do Mundo."(1) Azevedo Silva